Author: Kelly Marques
•7:28 AM
O ano era 1943. Restavam 2 anos para a guerra terminar, mas ainda faltava muito a acontecer.
Tom e Vincent eram amigos de infância. Viviam na Polônia, porém, apenas Vincent era judeu. A amizade deles era forte e saudável.
O tempo foi passando, e Vincent montou sua fábrica de meias. Conheceu Mary, que foi apresentada a ele por uma amiga, e logo se viram apaixonados. Os dois se casaram em 1938, 1 ano antes da Segunda Grande Guerra. Apesar disso, todos ainda mantinham a expectativa de que aquela sangria iria acabar logo e assim passariam a reconstruir suas vidas.
A perseguição
Mas não foi bem isso o que aconteceu. A Alemanha de Hitler, cada vez mais poderosa, invadiu a Polônia, baixando um decreto de que todos os judeus deveriam se apresentar para se 'cadastrarem'. Vincent e Mary, juntamente com milhares de judeus poloneses, obedeceram à ordem.
No estádio, lotado de pessoas que não sabiam o que iria acontecer com o seu futuro, os oficiais dividiam em grupos:
- Quem tem família numerosa passa para a direita. – muitas pessoas passaram para este lado. Vincent e sua esposa passaram para o outro.
No lado da família numerosa estava Peter, sua esposa e quatro filhos. Eles também eram amigos de Vincent e Tom. Horas depois, Vincent e Mary receberam documentos de identidade e foram encaminhados para algumas fábricas para trabalhar.
A essa altura, a empresa de Vincent fora tomada de suas mãos, e sua casa, grande e confortável, invadida e apreendida pelos nazistas. Praticamente todos os judeus foram obrigados a viver em guetos minúsculos e miseráveis. Era a perseguição aos judeus, nua e crua, provocada pelo Terceiro Reich. Todos tiveram de abandonar seus bens, suas coisas de valor, suas casas e vidas estabilizadas.
Tom, no entanto, por não ser judeu, não foi prejudicado. Continuou com sua loja de doces e com a vida intacta, apesar de sua grande tristeza pelo fato do amigo estar correndo grandes riscos de morte.
Depois de um tempo, alguns caminhões chegaram ao estádio, e os judeus de família numerosa, entre eles a de Peter, entraram e nunca mais puderam retornar para as suas residências. Ninguém sabia para onde tinham sido levados, mas havia muitos rumores de que os caminhões levavam as pessoas para campos de concentração distantes dali.
Essas conversas causavam receio entre os judeus, que não sabiam ao certo se aquilo era de fato verdade, afinal, ninguém havia voltado de lá para dar mais informações.
Um dia, porém, Tom fora convocado para trabalhar em um desses campos. Ele viu de perto o que os judeus eram obrigados a passar, por isso não podia deixar de pensar no amigo Vincent e sua família.
As mulheres eram separadas dos homens, e os homens, divididos em pavilhões, realizavam trabalhos diversos. Os que tinham alguma habilidade faziam serviços específicos de sapateiro, funileiro e cozinheiro, por exemplo. Outros iam para os serviços mais pesados, como carregar pedras. Todos trabalhavam muitas horas por dia e recebiam um pedaço de pão duro e uma sopa rala de nabo à noite. Por isso, a cada dia tornavam-se mais raquíticos e famintos. No final de alguns meses, depois que chegavam ordens superiores, muitos deles iam parar nas câmaras de gás, em seguida nos imensos fornos crematórios.
Tom havia sido convocado pelos nazistas para ajudar em algumas tarefas terceirizadas. Muitos poloneses não judeus trabalhavam nesses serviços por um tempo, mas depois retornavam para suas casas normalmente.
Vincent soube de tudo o que acontecia nos campos pelo amigo, o que o fez arquitetar um plano de fuga para não ter o mesmo fim. Com ajuda de Tom, Vincent construiu uma espécie de bunker, um abrigo subterrâneo, que improvisou em baixo da casa onde passou a viver no gueto. Porque, aos poucos, os moradores eram obrigados a deixar esses guetos e a adentrar nos trens rumo aos campos. Não havia escapatória.
A cada semana, esses lugares espalhados pelo país diminuíam mais e mais. A cada dia, perdiam seus moradores para os campos. Havia quem se matasse, quem desistisse de lutar pela sua antiga vida, e quem enfrentasse a morte iminente escondendo-se. Esses últimos eram poucos. Vincent era um deles.
A traição
Quando o gueto em que vivia foi praticamente esvaziado, Vincent, a mulher e outros poucos judeus corajosos, entraram no bunker e esperaram que os nazistas fossem embora – e que, por algum milagre, não os vissem ali.
Um dos oficiais e vários soldados com cães farejadores entraram na casa e vasculharam tudo. Vincent e os outros ficaram em um silêncio mortal; seus corpos gelavam, pingavam de suor, alguns deles ensaiavam desmaiar de pânico. Se fossem descobertos poderiam ser mortos ali mesmo. Mas não foram encontrados. E, apesar dos cães latirem bastante, os soldados resolveram ir embora.
Mary suspirou alto e os outros rezavam agradecendo pelo livramento.
Mas, de repente...
Ra-ta-ta-ta-ta-tá...!!!!
– Saiam agora daí! Sabemos que estão aí em baixo. Saiam agora ou morrerão aí mesmo!
Não havia jeito. Todos tiveram de subir e se apresentar aos soldados. Um por um foi saindo, até o último, Vincent. Quando surgiu, deparou-se com Tom junto aos nazistas. Mary só conseguia chorar, imaginando o que poderia acontecer.
Tom disse ao oficial:
– Eu disse ao senhor que havia mais deles aqui no gueto.  – era inacreditável! Vincent e Mary não entendiam tamanha traição. Tom comportava-se como um desconhecido – ou, pior, como um inimigo mortal deles. Era uma consequência da guerra, do medo da morte. Sim, Vincent sabia disso, mesmo assim não aceitava a traição. O que aconteceu com o seu amigo? Onde foi parar a amizade de longa data? Ao final, após serem surrados, foram levados para o caminhão, rumo a um lugar chamado Auschwitz.
De longe, Vincent viu Tom recebendo algumas gratificações. “Certamente por ter nos entregado”, Vincent atestou.
ias depois, já no campo de concentração, Vincent se perdeu de Mary. Ela fora encaminhada para a ala feminina, e ele designado aos serviços pesados. Ali, viu que tudo era exatamente como Tom havia lhe falado meses antes.
A lição
Um ano se passou, e Vincent não acreditava na visão que estava tendo. Deparou-se com Tom, vestindo a mesma roupa listrada de prisioneiro e com uma aparência de assombrar. Estava magro demais, ferido, cheio de hematomas e muito doente. Tom contraíra tifo, uma doença transmitida pelos piolhos que infestavam os pavilhões.
Vincent perguntou:
– O que você faz aqui? Você não é judeu...
– É, mas alguns oficias não acreditaram em mim. Na verdade, acho que eles sabem que não sou, mesmo assim me enviaram pra cá. Acho que sabiam que éramos amigos. Mas isso não importa mais! A minha vida já está arruinada mesmo... Vou acabar morrendo como você aqui! – ele falava em tom irônico e raivoso.
Um soldado se aproximou e deu uma paulada em Tom, indignado por vê-lo conversar, em vez de continuar carregando as pesadas pedras. Ele caiu e começou a sangrar. Não estava recuperado da doença, sem falar que o seu corpo estava bastante debilitado pela falta de saúde e alimento.
Vincent se aproximou, agarrou o amigo pela mão e tentou levantá-lo, apesar da imensa dificuldade. Tom não conseguia se apoiar. Vincent se abaixou. E, imaginando que poderia ser a última oportunidade de falar com o ‘ex-amigo’, disse:
– Fiquei muito abalado com a sua traição, mas não sei se vamos conseguir sair daqui vivos ou não. Se a guerra terminar antes de irmos parar na câmara de gás, ainda teremos uma esperança. Porém, quero lhe dizer agora mesmo que você sempre foi o meu amigo, meu melhor amigo, e entendo que se não me entregasse, talvez pudesse sofrer as consequências. Quero lhe dizer que por mim nossa amizade nunca vai morrer.
Tom, que nunca mais soube o que era um sorriso no rosto, sorriu de leve, não conseguindo segurar as lágrimas. Talvez não tivesse a chance de sobreviver, mas agarrou a oportunidade de reerguer a amizade.
Em 1945, a guerra acabou. Tom não suportou a doença e morreu. O saldo da guerra foi de milhões de judeus mortos nos campos de concentração – Mary foi uma delas. Já Vincent sobreviveu, recomeçando a vida como uma pessoa que sobreviveu ao ódio, à dor e, sobretudo, à traição de um amigo.
Para refletir 
Muitas vezes, agimos como Tom, traindo o Senhor Jesus em prol de um benefício próprio, mas Ele, tal como Vincent, sempre verá oportunidades onde não existem para nos perdoar e refazer a amizade que se perdeu pelo caminho.
Guerras, principalmente espirituais, sempre vão existir. E são elas que dirão de qual grupo você faz parte: dos que abandonam a fé em prol de si mesmo, ou dos que superam todas as adversidades e sentimentos ruins, para se manterem fiéis a Deus, e que, no fim, serão salvos. 
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